Nova engenharia para um novo século

 

*Aluizio de Barros Fagundes

 

O ano de 2010 foi próspero no Brasil. Já não era sem tempo. Afinal, amargamos mais de 25 anos de recessão profunda. Nossa engenharia que tanto orgulho nos trouxe até os anos 80, por muito pouco não se extinguiu. Prenuncia-se novo período de progresso, que, aparentemente, se for bem organizado, poderá ser duradouro. Isso já apresenta alguns sérios problemas em nosso setor. Ao longo do recesso, muitos dos nossos engenheiros experientes perderam seus empregos e mudaram de atividade. Outros tantos buscaram uma aposentadoria precoce. Vários empresários fecharam suas portas, alguns poucos reduziram drasticamente as atividades ao sabor do mercado, outros converteram-se em firmas do “eu sozinho”. Mas a face mais cruel e perversa dessa tragédia é que os jovens deixaram de procurar pela formação superior de engenharia. A condução da nossa engenharia hoje está nas mãos de uns poucos velhos engenheiros com alguma chance de transmitir o conhecimento técnico-operacional àqueles jovens que já retomaram o interesse estudantil pela profissão.

Hoje há nítida falta de engenheiros no Brasil, em quantidade e qualificação compatíveis com os empreendimentos atuais e futuros. Fomos “pegos no contrapé”, mais uma vez demonstrando que em nosso País nada se analisa e nada se planeja. Confiamos demais no propalado “espírito criativo” e na poderosa “força de improvisação” de nosso povo. Do mesmo modo que, nas décadas de 60, 70 e metade da de 80, a engenharia se mobilizou, encorpou e brilhou com grandes hidroelétricas, rodovias, metrôs, sistemas de abastecimento de água, sistema habitacional, e a indústria de produção geral de utilidades, repentinamente, na verdadeira acepção da palavra, assistiu inerme à paralisação que perdurou de 1985 a 2009. Da noite para o dia, apagaram-se as luzes, fecharam-se as portas e todos fomos atônitos para casa. Os bons tempos na fase de crescimento vieram de um improviso a partir de uma boa idéia, a de Brasília, num comício da então campanha presidencial na pequenina e longínqua Jataí, no ano de 1955. A estagnação veio da imprevidência, mesmo com os avisos da crise econômica internacional de 1985.

Com o novo surto de progresso experimentado em 2010, teremos tudo de novo por fazer e tudo por fazer de novo. Precisamos, no entanto, estar conscientes que dessa vez não podemos abusar da improvisação e criatividade, sob pena de apenas “incharmos” a força de trabalho. A denominada GLOBALIZAÇÃO, que poucos compreendem ser um movimento financeiro de capitais que, em todo o mundo, migraram das mãos dos estados para as mãos particulares, exige reflexão, cautela e denodo nas tomadas de decisões que ora se fazem imperativas. Nenhum país mais está isolado e há determinadas interdepedências econômicas que os aproximam em maior ou menor grau, em relações diretas ou indiretas. Os padrões monetários estão em ebulição desarranjada por todo o mundo. Por isso, todo o cuidado na retomada do desenvolvimento será necessário. É PRECISO PLANEJAR. Com técnica e proficiência. Acabou o tempo de, à moda brasileira, “empurrarmos” a economia nos moldes futebolísticos de uma torcida gritalhona e animada. O time está exaurido.

É preciso fugir da armadilha de que nosso futuro é a Copa do Mundo de 2014 e ali tudo termina. Não podemos pensar em soluções provisórias ou paliativas para os candentes problemas de infraestrutura, sob pena de perdermos o verdadeiro legado que a FIFA preconiza: PLANEJAMENTO para melhoria da qualidade de vida. Temos que enxergar que os estádios, com a monumentalidade exibicionista, podem ser efêmeros, mas a melhoria do entorno que suscitarem tem tudo para ser permanente e não pode ser esquecida ou procrastinada.

É hora de a classe dos engenheiros se unir organizada e despojadamente para discutir o setor econômico e o suprimento da inteligência necessária, com sobriedade, espírito prático e universalidade. É preciso implantar o trabalho de reorganização dos títulos profissionais da engenharia, já concluído pelo MEC, com a colaboração do Instituto de Engenharia que reuniu as nove melhores escolas de nosso Estado de São Paulo. É preciso fazer um levantamento consistente das reais necessidades do MERCADO comprador da engenharia e sua projeção em curto, médio e longo prazos para sabermos de fato quantos engenheiros teremos de formar no período e quais deverão ser suas especialidades, mesmo nos setores do petróleo, química e agronegocial que a crise não esfacelou. É preciso abandonar o “chutômetro” que vem permeando o meio da engenharia cada vez que a imprensa pergunta às entidades. É preciso abandonar ideias exóticas de que entidades específicas da profissão fundando novas escolas de engenharia resolverão o problema em quantidade de alunos e qualidade de ensino. Deveremos agir para erradicar o despreparo de base dos calouros, que nada sabem de aritmética, física, química, álgebra e geometria.

Tarefa árdua nos espera. O Instituto de Engenharia já deu o primeiro passo nesse sentido. Estamos nos organizando para, em agosto de 2011, fundar um núcleo de discussão superior dos negócios de engenharia, para o qual serão convidadas as principais entidades de classe, empresas, instituições de ensino e autoridades públicas. As discussões sempre visarão o mercado e terão por objetivo modificar aquilo que está inadequado aos tempos modernos no que tange ao preparo dos profissionais de engenharia, à organização da atividade econômica, à legislação pertinente, aos órgãos de regulação, à fiscalização e controle, aos planos de investimentos governamentais, às fontes de recursos, às metodologias de análises de viabilidade tanto técnica quanto econômicas. Contaremos com a adesão e efetiva participação da classe.

*Aluizio de Barros Fagundes, presidente do Instituto de Engenharia

Artigo publicado na Revista Engenharia, no 602/2011 - ano 68


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